segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dicas para prevenir abuso sexual contra crianças e adultos com deficiência intelectual e outros tipos de deficiência

Dicas para prevenir abuso sexual contra crianças e adultos com deficiência intelectual e outros tipos de deficiência


Acompanho as notícias com relação à síndrome de Down e tenho notado um aumento no número de casos de abuso sexual envolvendo homens, mulheres, jovens e crianças com Down. Quero crer que o número de histórias vem aumentando porque as pessoas estão denunciando mais do que no passado, já que certamente esse problema sempre existiu. Ao invés de continuarmos tratando o tema como tabu, devemos discuti-lo e trabalhar intensamente para evitar que nossas crianças, adolescentes e adultos se tornem vítimas. Além disso, devemos denunciar estas práticas pois, sem estatísticas, é como se elas não acontecessem. É nosso dever zelar pela segurança e pelos direitos de nossos filhos.

A australiana Sam Paior, mãe de um garoto com síndome de Down e a Dra Freda Briggs, especialista reconhecida na prevenção ao abuso, listaram uma série de dicas para alertar às famílias com crianças pequenas ou pessoas com deficiência intelectual ou outros tipos de deficiência ou vulnerabilidade com o objetivo de prevenir a ocorrência de abuso sexual.

Segundo Sam, é melhor confrontar a situação e admitir que esse problema poderá afetar muitos de nós do que esconder a cabeça na terra como um avestruz. Temos que reconhecer que este é um problema que poderá afetar muitos de nós.

Não arquive essas sugestões e deixem para ler depois. Leia agora, reflita sobre cada um dos conselhos. Estimativas mostram que até 90% de mulheres e meninas com deficiência intelectual será abusada sexualmente, e até 50% dos homens. Adicione a isso o fato de que os sites de pedófilos freqüentemente mencionam especificamente crianças com síndrome de Down como ótimos alvos por causa de sua “vontade de agradar”.

Precisamos estar atentos, e educar nossos filhos e a nós mesmos.

As informações que dizem respeito a figuras religiosas também são difíceis de ouvir, mas não as desconsidere. Apesar de que gostaríamos de pensar que alguém da igreja estivesse fazendo a coisa certa, a experiência mostra o contrário. Muitos destes delinquentes se escondem dentro da igreja para garantir sua autoridade e para que nós, os pais, tenhamos a confiança deles.

Dissemine essas informações ao maior número de pessoas possível.

Patricia Almeida



Dicas para prevenir abuso sexual contra crianças e adultos com deficiência intelectual

1. Comece cedo: Introduza vocabulário correto para vagina e pênis para que as crianças possam informar claramente se alguém tem algum mau comportamento sexual.

2. Com crianças em idade pré-escolar e aqueles com atraso de desenvolvimento, use o livro “Todo mundo tem bumbum” (Everyone’s got a bottom) disponível na internet.

3. Introduza o conceito de privacidade do corpo – ninguém pode fazer cócegas ou brincar com as partes íntimas do seu corpo – “É o meu corpo” (mas você pode tocá-lo quando estiver em um lugar privado). Explique, conforme necessário, que se tocar pode ser prazeroso.

4. Para previnir que as pessoas sejam usadas para sexo oral, inclua a boca como uma parte íntima e deixe claro que ninguém tem permissão para colocar qualquer coisa “nojenta” e “fedorenta” ou qualquer parte do corpo em sua boca (discuta higiene oral).

5. Deixe claro que se alguém quebra as regras sobre privacidade do corpo, a criança precisa avisar a você porque isso não é permitido. As crianças gostam de regras.

6. Ajude-os a discriminar onde podem tocar e onde é ERRADO. Você precisa ensinar como são os toques errados. Não fale sobre toques ruins porque os toques podem fazê-la sentir-se bem.

7. Ensine-os a dar um passo mantendo os braços estendidos à frente e dizendo (em voz bem alta) -”Não! Pare com isso! Isso não é permitido” e ficar longe de alguém que toca num lugar errado. Pratique dizer “Não” assertivamente.

8. Não ensine-os a dizer: ‘Eu vou contar “, porque isso pode resultar em ameaças.

9. Pratique distinguir segredos que devem ser mantidos e segredos que devem ser contados. Crianças e adultos com deficiência intelectual pensam que podem contar segredos bons, mas devem manter para si os segredos ruins porque eles fazem as pessoas ficarem tristes.

10. Ensine o funcionamento básico do corpo.

11. Como o abuso sexual tem a ver com poder, descubra como você pode empoderar seus filhos e filhas. Incentive-os a se vestirem, fazerem a higiene, irem ao banheiro e comerem com independência. (Sim, pode ser mais fácil e rápido fazer as coisas para eles, mas não ajuda a auto-estima)

12. Dê-lhes oportunidades de fazer escolhas.

13. Aprenda e pratique as normas de segurança com água, eletricidade, fogo, remédios, drogas, trânsito e pessoas. Identifique situações potencialmente inseguras. Ensine e pratique como obter ajuda quando necessário, como usar o telefone e escolher a quem recorrer com segurança, por exemplo procurar uma mulher com filhos num shopping, etc.

14. Desenvolva e pratique a resolução de problemas. “Qual seria a melhor coisa a fazer se …..”, “Vamos supor que …”, “Você consegue pensar em algo mais seguro?

15. Desenvolva habilidades que os faça ser capazes de fazer relatos precisos: crianças e pessoas com deficiência intelectual vítimas de abuso podem só sugerir alguma coisa, mas pensar que estão relatando. Se você não corresponder, elas podem sentir-se impotentes e sem esperança.

16. Desenvolva a auto-estima: Elogie o esforço – enfatize o que eles fazem bem e fale sobre o que eles gostariam de fazer.

17. Encoraje a expressão de sentimentos: o que o torna triste, feliz, assustado, preocupado.

18. Tenha em mente que, se eles não recebem afeto físico, aprovação e atenção, eles se tornam mais vulneráveis aos predadores.

19. Desenvolva suas habilidades sociais conforme necessário: manter o próprio espaço, contato olho no olho, saber o próprio nome, endereço e número de telefone.

20. Ensine sobre os seus direitos e pratique que sejam firmes, sem cometer agressões.



Desafios para os pais e cuidadores:



Crianças e jovens com deficiência podem:

1. Já ter aprendido a obedecer passivamente adultos, especialmente os cuidadores/professores/ profissionais.

2. Ter desenvolvido imagem do corpo ruim e conceitos como manter o próprio espaço.

3. Não ter nenhum conhecimento dos seus direitos.

4. Já ter sido abusados sexualmente ou ter adquirido conhecimento equivocado sobre sexualidade.

5. Ter poucas oportunidades para a independência.

6. Ter sentimentos de vergonha e baixa auto-estima que aumentam a vulnerabilidade aos abusadores.

7. Ter cuidadores / trabalhadores de apoio super-protetores que fazem de tudo para eles, impedindo-os de ter oportunidades para se afirmar e ganhar independência.

8. Crianças e pessoas com deficiências de desenvolvimento não necessariamente entendem o que é um estranho (ao passo que estranhos tentam conhecer bem suas vítimas) – refira-se a situações potencialmente perigosas ao invés de pessoas perigosas.

9. Jovens e crianças com deficiência de aprendizagem tendem a aprender respondendo bem à dramatização com bonecos, bem como treinar situações de forma prática. Eles precisam de constante repetição e reforço.

10. Pessoas com deficiência intelectual acham difícil transferir informações de uma situação para outras, por exemplo se a escola ensiná-los a ir para um lugar seguro em situações difíceis, eles podem entender que existam lugares seguros como a solução para todos os problemas potenciais, tais como estar no ônibus errado ou se perder em um show. Isso quer dizer que elas precisam praticar bastante em diferentes cenários.

11. A comunicação deve ser clara. Use frases curtas e simples. Evitar “ou isso ou aquilo” e frases que podem ser respondidas com sim / não. A informação deve ser quebrada em pequenos segmentos. Não dê dicas vagas. Crianças e pessoas com deficiência intelectual provavelmente não associarão “Está tudo bem?” ou “Ele te tocou?” com o abuso sexual.

12. Use imagens de toques inapropriados, especialmente para crianças surdas.

13. Com pessoas que não falam, consulte um fonoaudiólogo para usar vocabulário sobre sexualidade em forma de símbolos e fotos.

14. Aqueles com deficiência visual severa podem precisar de ajuda extra para desenvolver consciência corporal. Use bonecos com as partes íntimas anatomicamente corretas para uma sensação mais realista.

15. Crianças com deficiências físicas graves precisam de um foco sobre a independência em relação à higiene, confiança estima, auto-identificação e toques errados quando são ajudadas nos cuidados pessoais.

16. Proporcionar oportunidades de fazer escolhas as próprias escolhas.

17. As escolas sozinhas não podem prevenir o abuso de acontecer, mas quando ele é identificado permitem que as vítimas obtenham ajuda rapidamente para parar o abuso e se sentirem bem consigo mesmas. O abuso de longa duração é o que causa o maior dano.



Criminosos sexuais



* Podem ser encontrados onde quer que haja pessoas vulneráveis.

* Adulam os adultos responsáveis pela segurança das crianças, bem como as próprias crianças.

* Escolhem como alvo mães solteiras, ganham sua confiança, fornecendo serviços gratuitos de que elas precisem e as tratam com respeito.

* Apresentam-se como cidadãos modelo criando uma rede de apoiadores para que, quando o abuso for revelado, ninguém acredite … mesmo depois de terem sido condenados

* Tornam-se muito populares entre os alvos em potencial, os sinais de alarme devem soar quando um adulto se envolve em jogo imaturo, no mesmo nível da criança. Páre as cócegas antes de entrar debaixo da roupa. Não ignore o seu sentimento de desconforto – intervenha e interrompa o contato mesmo se essa pessoa for popular com seu filho

* Respondem às necessidades emocionais das crianças proporcionando-lhes atenção, elogios, presentes, fazendo com que se sintam especiais e amadas. Os criminosos sabem que as crianças toleram o abuso para manter os benefícios da relação.

* Eles começam com carinhos, beijos e abraços. Depois introduzem a conversa sobre sexo, pornografia, (para dessensibilizar a criança e normalizar o abuso) acariciam as genitais de seu filho e depois praticam sexo oral – “Agora é minha vez, você já se divertiu”

* Aqueles que detém posições de autoridade podem não precisar usar métodos de adulação, alguns padres dizem ter usado filhos dos mais dedicados freqüentadores da igreja sabendo que, se o abuso fosse descoberto, os pais iriam procurar um bispo, não a polícia

Abuso de irmãos e de jovens menores é mais difundido e mais prejudicial do que a maioria das pessoas imagina. Quando externado, deve ser levado a sério e aconselhamento deve ser procurado para todos os interessados, independentemente da idade do agressor.

Figuras paternas e namorados da mãe apresentam um risco maior para crianças do que pais naturais. Em alguns casos, eles escolhem a mãe para ter acesso a seus filhos.

A maioria dos infratores é do sexo masculino. A segunda característica é que eles são frequentemente religiosos / autoritários.

Sabemos muito menos sobre os infratoras do sexo feminino. Cerca de 20% dos homens dizem que foram abusados por mulheres, mas eles não consideraram como abuso, pois “não doeu”.

As mulheres podem ser tão agressivas e usar os mesmos métodos de adulação que os homens. Há menos vítimas, mas os efeitos à longo prazo podem ser tão prejudiciais quanto o abuso masculino.

Por Sam Paior e Dra. Freda Briggs
Tradução – Patricia Almeida

DE QUEM É A DEFICIÊNCIA, AFINAL? por Beto Volpe - 21/11/2011


Descrição da imagem: três medalhas olímpicas sobre pano vermelho

O Brasil acaba de se consagrar campeão antecipado dos Jogos Para Pan Americanos de Guadalajara, com direito a recorde de medalhas e tudo. Atletas dos mais diversos cantos do país, com as mais diversas deficiências e com o mesmo perfil vencedor, pessoas que transformaram um desafio aparentemente intransponível em uma história de superação que tem a cor do bronze, da prata e do ouro.

Você sabia disso? Talvez não, neste momento, são 23 horas de sábado, não há menção ao fato tanto na primeira página quanto na seção de esportes do maior site de informações do Brasil. Notícias fugidias de tão breves são dadas em alguns telejornais, enquanto a emissora detentora dos direitos nem a um boletim diário abre espaço em sua programação abençoada pelo deus de Edir.

Não é a primeira vez que isso acontece, claro. Mas depois de tanto avançar, de termos tido uma protagonista com deficiência em horário nobre, espera-se alguma evolução na forma de pensar dos empresários de comunicação e seus patrocinadores. Ano passado, na estréia do BBB, Pedro Bial saudava os participantes como 'heróis que terão que superar um árduo caminho até a vitória”' No mesmo dia, sem destaque algum da mídia, o Brasil ficava em terceiro lugar no Campeonato Mundial de Para Atletismo na Nova Zelândia, atrás apenas de China e Rússia.

Aí cabe uma reflexão: de quem é a deficiência, afinal? De pessoas que superaram uma suposta limitação física, intelectual ou sensorial ao ponto de representar seu país com o brilho de muitos metais? De pessoas que além disso tiveram que lutar contra a falta de apoio e patrocínio, contra o descrédito que vinha até das pessoas mais queridas? Ou de um país que continua a renegar seus verdadeiros pilares morais e se entrega à vulgaridade do consumo rápido e fácil? Um país onde muita gente sente vergonha de ser honesta e outro tanto não sente vergonha nenhuma em não sê-la. Um país onde a mídia e as corporações deitam e rolam nos lucros e demonstram um grande exemplo de deficiência ética e patriótica ao tornar invisível participação brasileira tão brilhante e que encheria de orgulho qualquer nação socialmente desenvolvida.

De quem é a deficiência, afinal?

Parabéns, para atletas panamericanos!
Parabéns, para atletas de todo o país e de todo o mundo!!
Beto Volpe

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Novo texto no BLOG INFOATIVO.DEFNET - As sexualidades não são "deficientes" - agosto/2011

Convite para os amigos e amigas, leitores e leitoras
Novo texto no BLOG INFOATIVO.DEFNET
As Sexualidades não são "deficientes" -


Sobre direitos sexuais e reprodutivos de pessoas com deficiência

Hoje revi e repensei sobre o filme Nascido em 04 de Julho (1989). Nesse mesmo momento a Bolsa de Nova York nos diz que o mundo hipercapitalista reconhece seu próprio risco econômico. Rebaixam o Império ao mesmo nível que rebaixaram o México que aparece no filme de Oliver Stone. Lá estão as mulheres mexicanas, prostituidas, que podem resgatar a virilidade perdida pelo personagem vivido por Tom Cruise, "paralítico", impotente e veterano de guerra. Uma mulher, representada no filme com o nome Maria Helena, protagoniza uma das melhores cenas, quando o faz descobrir que, apesar de sua paraplegia, há muito que sentir quando a sensibilidade e o desejo se cruzam em um encontro sexual. Para além de todas as repressões e impotências.

LEIAM E COMENTEM O TEXTO NA ÍNTEGRA EM:
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/08/as-sexualidades-nao-sao-deficientes.html

A DIVERSIDADE SINALIZANDO O DESCONHECIDO - Lilia Pinto Martis - Agosto/2011

A DIVERSIDADE SINALIZANDO O DESCONHECIDO
Lilia Pinto Martins

Li recentemente, no Portal RAC, do maior grupo de mídia impressa do Interior de São Paulo, reportagem de nossa amiga Katia Fonseca, jornalista e Presidente do CVI-Campinas. A matéria, do dia 25 de julho, trazia como título “Casal com Nanismo Gera Criança Sem Problema Físico”.
Recolho da reportagem aqueles trechos que considero mais significativos para conhecer a história do casal e, neste contexto, lançar algumas questões que me parecem instigantes.
A começar, pela introdução da própria reportagem: “A ciência garante que é possível, mas a maioria duvida: pessoas pequenas (1) podem gerar filhos que terão estatura padrão”.
E continua: “Fabíola Dreher Guimarães e Fernando Vieira Guimarães são a prova viva disso. O casal, que mora em Campinas, deu à luz, nesta segunda-feira (25), Lívia, uma bebê com saúde e que não terá problema de crescimento”....
“Fabíola tem 21 anos e mede 1,20m. Fernando tem 28 anos e mede 1,35m. Eles se conheceram há cerca de três anos, pela internet ..... Em maio de 2009, eles se viram pela primeira vez, ´numa balada de pequenos`, em São Paulo. Começaram a namorar e, em um ano, estavam casados”....
“Nenhum dos dois nasceu em Campinas. Ela é.... do Paraná, e ele nasceu na capital paulistana ... e vieram para Campinas por diferentes razões: Fabíola em busca de melhores oportunidades de estudo e trabalho .... e Fernando atrás de Fabíola. ´Me apaixonei por ela`, confessa”.
“Fabíola ficou grávida sem planejar .... No entanto, filhos sempre estiveram nos planos de ambos”.....
“Nos três primeiros meses, Fabíola passou muito mal por causa dos enjoos. Mas nada que não seja esperado da maioria das gestações ... Depois, teve uma gravidez tranqüila”.....
“Fabíola e Fernando preferiam ter gerado um bebê como eles – que se tornasse também um pequeno. ´Os médicos torciam para que nossa filha tivesse estatura padrão e achavam que a gente torcia pra isso também`, conta o pai. Ambos estão ainda em suspenso a respeito de como será criar uma criança grande .... ´No começo, eu estava pirando com o fato do bebê não ser um pequeno, confessa Fernando... A mamãe ainda não sabe como vai agir e se sentir frente à doce Lívia que acaba de nascer. Mas sabe o que quer para o futuro de sua bebê....”.
Uma reportagem sensível, apresentando a narrativa de simples fatos que cercam nosso cotidiano, estimula-nos a ir além dos fatos, procurando ângulos não antevistos. Desse modo, fui instigada a examinar dois aspectos da reportagem que me chamaram a atenção de imediato.
Em primeiro lugar, fica patente o afeto e o cuidado que ambos inspiram um para com o outro, cercando a relação de uma “liga” muito peculiar chamada enamoramento. Nada de muito particular, já que esta “liga”, ou melhor “vínculo afetivo”, é parte intrínseca das relações humanas.
Mas o que dizer, vindo de pessoas tradicionalmente tratadas como “bobos da corte”, e vivendo apenas em função do divertimento e do prazer que despertam nos outros? Como imaginar, pensariam alguns, que neste “mundo dos pequenos” (2) existiria algo além daquilo para o que estes “pequenos” estão destinados, ou seja, ser pretexto de piada para espetáculos circenses ou programas humorísticos? Nada mais reducionista que um pensamento desta natureza, revelando o quanto dentro de nossa “humanidade” podemos ser perversos, estigmatizando pessoas e confinando-as em padrões de existência muito aquém de sua condição humana.
Felizmente, a realidade, sinalizando fatos como o da reportagem, confirma uma convicção que sempre tivemos, e que mostra como a diferença que cerca os humanos entre si, não lhes retira a humanidade, conferindo-lhes os mesmos anseios e desejos que acompanham os seres humanos em geral, desde que o mundo é mundo. E por uma razão muito simples: somos pessoas, acima de qualquer diferença.
Um segundo ponto a focalizar: tanto Fabíola, quanto Fernando mantinham a expectativa de ter um filho também “pequeno”, mostrando-se surpresos ao tomar conhecimento do contrário, por não saberem como seria lidar com uma criança “grande”, ou seja, com uma filha que terá padrões de estatura diferenciados dos padrões de ambos. E mal leio este trecho da reportagem me vem a pergunta: curioso, a expectativa do casal não deveria ser o inverso da que experimentaram, ou seja, ter um filho com uma estatura padrão, que o identificaria dentro dos padrões sociais da normalidade? Não é sempre a expectativa pela “normalidade” que se coloca frente a situações novas, profundamente investidas de emoções e sentimentos, como é o nascimento de um filho? E não é exatamente o contrário que se verifica, isto é, a “normalidade” da filha causando dúvidas e estranheza ao jovem casal? Como é desejar que se repita no filho uma condição de “diferença”, que em lugar de trazer seu significado intrínseco de individuação, é normalmente tratada e representada como minusvalia? Que força misteriosa é esta, atraindo para o que é “igual”, mesmo quando o igual significa a diferença? Sim, porque o caso em questão é exemplar para apontar este paradoxo, quando a condição de diferença dos pais é vivenciada como “normalidade”, a ponto de suscitar neles a expectativa por um filho igual dentro da diferença que os identifica. E para surpresa geral, a condição de “normalidade” da filha causa estranheza exatamente pela diferença que apresenta em relação aos pais.
Este questionamento leva a supor que, em princípio, somos guiados pelo desejo por um mundo que não tenhamos que ser defrontados com a diversidade, condição que não deixa de ser aprisionante, mas que sem dúvida fala de sentimentos e desejos bem primitivos. Tenho a impressão que, de fato, estar frente à diversidade, com tudo o que isto representa, é dar-se conta de um outro, que sendo diferente de nós, suscita dúvidas, angustias e conflitos, por fugir a nosso desejo de ter este outro como espelho de nós mesmos, continuando a ilusão de que somos o centro do mundo. Nada nos assusta mais do que o desconhecido e o inesperado, que rompe com esta ilusão, retirando-nos do “paraíso” e reavivando ameaças muito primitivas, tanto de nosso passado pré-histórico, quanto de nosso psiquismo primário, formado por fantasias insconscientes que nos acompanham em nosso desenvolvimento humano.
Lidar com a diferença, trazendo o desconhecido e o inesperado, será sempre uma situação desafiante, frente, talvez, a uma escolha alternativa e preferencial que não apresente conflitos a primeira vista. Esta pode ser uma das razões porque é tão usual colocar alguns segmentos que representam a diversidade, fora dos padrões humanos e sociais. Mas nada tão ilusório quanto negar o conflito em quaisquer perspectivas das relações humanas, conflito, a meu ver, origem, não só de litígios intransponíveis, como também de processos estruturantes para relações mais humanizadas e oxigenadas, exatamente, pela presença da diversidade dentro do tecido social.
(1) Denominação adotada pelo casal entrevistado
(2) Adoto a denominação utilizada na reportagem, seguindo a opção do casal entrevistado.

Assinatura_Lilia_menor

sexta-feira, 1 de julho de 2011

QUE NOME MAIS SEM NOÇÃO... por Beto Volpe (julho de 2011)

QUE NOME MAIS SEM NOÇÃO...


Lembro do tempo que meu contato com pessoas com síndrome de Down se resumia a uma prima em segundo grau e duas propagandas de televisão, ambas institucionais. Uma delas tinha como fundo musical uma canção que adoro ouvir nos dias de cortar os pulsos: Creep, do Radiohead. O comercial apresentava duas crianças, uma muito bem vestida e outra de forma humilde, divertindo-se muito em um carrossel, até que ao final é revelado que a criança supostamente em vantagem social tinha Down e um grande ponto de interrogação era plantado no coração do telespectador. Interrogações, sementes das exclamações... Enfim, o outro vídeo era co-estrelado por Ângela Vieira, uma de minhas musas de talento e beleza, mulher madura e com um dos pares de pernas mais lindos que já vi em minha vida, tanto que fez por merecer um ensaio em notória revista masculina. Mas aquele vídeo não estava focado nas belas coxas e também não era destaque o brilho da grande atriz. As luzes estavam voltadas para os bastidores da gravação, onde toda a equipe era composta por jovens com síndrome de Down atendidos pela Associação Carpe Diem. Todos muito up, como pode ser comprovado em http://www.carpediem.org.br/si/site .
Eu sempre soube que os ups eram bem humorados, de fácil socialização e que muito do que se falava negativamente a respeito era pura bobagem. Depois que passei a viver com HIV e com mais um preconceito, então, isso ficou evidente. Mas foi quando comecei a atuar na área de AIDS e deficiências que tive a oportunidade de mergulhar mais profundamente nesse mundo maravilhoso e cheio de surpresas. Fiz amigos e amigas com os quais tenho profunda afinidade em uma série de assuntos e uma afetividade digna de um leonino como eu. Essa relação com a galera foi se intensificando até que fui assistir ao espetáculo UP, dirigido pelo brilhante Deto Monenegro, irmão do igualmente brilhante Oswaldo. A trupe da Oficina dos Menestréis levantou o público com sua espontaneidade na atuação em cena, a transparência ao se posicionar como seres de desejos e expectativas, como seres humanos límpidos e contagiantes. Tudo que o mundo perdeu ao longo dos anos. Bem mais recentemente assisti à apresentação de UP2, no aconchegante e acessível teatro Dias Gomes, onde o pessoal se superou e trouxe uma nova experiência rica em sentimentos, informações e, sobretudo, alegria. Alegria que tive renovada há duas semanas ao colocar meu pés adivinha onde? Na Carpe Diem, a mesma associação do comercial onde a equipe de gravação era up. Onde reencontrei vários amigos e amigas, com e sem Down, mas todos up. A convite da equipe técnica fui falar algumas bobagens sobre sexualidade, seus prazeres e riscos.
Lembrei dos tempos de Ângela Vieira, seu talento e sua beleza. De quando, ao final do comercial, ela é alertada pela diretora que aquela seria a última tomada. E vi que os bastidores da gravação não eram uma ficção ou uma obra da criatividade da agência publicitária responsável pela peça. Era pura realidade. Praticamente todos os jovens que conversei estão empregados ou estagiando no mercado formal de trabalho e participando pro ativamente de projetos na Instituição. Fui até convidado a participar de dois, olha que dez! As monitoras sempre me auxiliando, de forma muito carinhosa e profissional, nos momentos onde foi necessário. Claro que meu arsenal de insanidades, que vai desde um bilau feito de sabonete rosa até meu ossinho velho de guerra, causou furor e foi uma pena não ermos mais tempo. Mas, como já disse Artur da Távola, afinidade independe de tempo e espaço. Depende de amor, sinceridade e alegria. Que, não por acaso, são as principais características dos ups.
Esse tal de doutor Down não podia ter um sobrenome mais condizente??? Sem noção...
Obrigado, pessoal da Carpe, em especial Bia, Tiago e Fabi.
Espero voltar em breve, tem a turma da manhã!!! Certo, Mariana?
Super beijos pra todos vocês!
Beto Volpe - 01 DE JULHO DE 2011

terça-feira, 28 de junho de 2011

Sindes debate homofobia e violência contra a mulher - Florianópolis

No dia 29 de agosto/2011 (segunda-feira), Dia da Visibilidade Lésbica e data que marca o lançamento nacional da campanha contra a violência contra a mulher chamada pela ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e pela ABL (Articulação Brasileira de Lésbicas), o Sindes realiza o debate "Mulheres de Luta", às 15 horas, no auditório do Museu Cruz e Souza, em Florianópolis.

Para debater conosco estarão presentes as seguintes palestrantes: Anahi Guedes, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal de Santa Catarina e do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS); Kelly Vieira, coordenadora do Centro de Referência em Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade da ADEH (Associação das Travestis e Transexuais da Grande Florianópolis); e Guilhermina Cunha Salasário da Associação de Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade de Florianópolis da ADEH, do Conselho dos Direitos da Mulher de Florianópolis e da ABL.

A presença de todos é fundamental para avançarmos na discussão desses temas atuais que preocupam nossa sociedade: a homofobia e a violência contra as mulheres e lutarmos juntos pelo fim da violência e do preconceito. O Sindes chama todos ao debate porque acredita que o desrespeito a qualquer ser humano deve ser combatido por todos.

Inscrições para recebimento de certificado: enviar nome completo, cargo e local de trabalho para o endereço eletrônico sindes@sindes.org.br solicitando a sua inscrição até o dia 24 de agosto/2011 (quarta-feira). As inscrições devem ser realizadas com antecedência para melhor podermos organizar o evento. Mais informações pelos fones: (48) 3028.4537 / 9901.8927.
Em anexo, segue o cartaz do evento. Ajude a divulgar, agende-se e participe!
Contamos com todos, trabalhadores, movimentos sociais e sindicais nesse debate!

Até lá!

Diretoria do Sindes
Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Sindicais de 1º e 2º Graus, Associações Profissionais e Centrais Sindicais de Florianópolis e Região Sul


Anexo(s) de anahi guedes de mello
1 de 1 arquivo(s)
cartazgenero-1.pdf

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Coração na Sapateira - Jairo Marques - 07/06/2011 - Folha de São Paulo

"Apesar de ter começado a namorar muito tarde para os padrões de quem já "fica" aos 11 ou 12 anos, a amar e a me apaixonar comecei cedo. Uma sapateira velha lá de casa ganhou corações varados por flechas quando eu talvez tivesse uns sete anos.

O tempo foi passando e eu não já não aguentava mais conviver com aquela maldita pedra no caminho colocada pelo Drummond. O meu desejo era mesmo entregar de vez a flor para a menina que o Vinicius falou. Em alguns momentos, de tanta aflição, até quis ter a minha hora da estrela, igualzinho narrou a Clarice. Namorar me fazia falta demais, "affmaria".

Na minha cabeça, só os perfeitinhos, só aqueles mocinhos com mais músculos que a carne moída lá de casa conseguiam namoradas.

O resto do mundo -os de canelas minguadas iguais a mim, os tímidos demais, os esquisitões, os muito gordos ou muito magros, os CDFs (que agora respondem por "nerds"), os estragadinhos em geral-, esse povo tinha de se contentar com as histórias românticas dos livros, com os beijos estalados do cinema, além de ser o sujeito do "bom de papo" e só isso.

Lá em casa me chamavam até de "pé de santo", de tanto que eu ouvia -e só ouvia- as meninas da minha rua e da escola em suas ladainhas de sentimentos partidos. Mal eu sabia que elas estavam, de certa maneira, treinando a mim para viver grandes amores.

Pode ser puro bairrismo meu, pura proteção da "classe" dos abatidos pela guerra e dos de fora da curva da chamada normalidade, mas o tempo que a gente "perde" não namorando cedinho a gente ganha aprendendo delicadezas da conquista que há de vingar.

Quem não namora se afunda em poços de querer amar profundamente e se encanta com facilidade pelo baile do cachorro da esquina, pela risada longa da velhinha no metrô. Enquanto não se namora ninguém, namora-se o mundo. Mas tudo isso não quer dizer que jamais a "arte do encontro" irá concretizar-se na vida de quem é tido como diferente. Uma hora pode acontecer, igual a tudo na vida.

Não posso me comprometer com aquela máxima que diz que "todo pé cascudo tem o seu chinelo velho", mas que os mortais nasceram para encontrar ou tentar encontrar uma mãozinha para coçar seus piolhos, ah, nasceram.

Por isso, quando você vir um casalzinho de cadeirantes todo zombeteiro se agarrando na praça, não vá pensando que rolou rebelião na ortopedia do HC, é puro amor de dois mal-acabados.

Também contenha um certo espanto, um certo estranhamento ao flagrar a mocinha cegona aos beijos com o rapazinho anão. Ela pode não ver, o coração pode não ter razão, mas tamanho e menina dos olhos não são credenciais para o amor.

Namorar é para todos e o amor mistura as pessoas independentemente de seus padrões. Conheço surdos que namoram "ouvidos absolutos", ligeirinhos que caem de paixão por paralisados cerebrais.

A graça do sentimento não mora na perfeição, mora no carinho, na dedicação ao outro, na atração, no poder de fazer graça e de fazer poesias secretas. Dessa maneira, acho que o tempo tido como de "solidão" pode ser útil para aprender a respeitar e aproveitar o tempo da união. Então, que se libertem os corações das sapateiras".

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Violência sexual contra pessoas com deficiência

Violência sexual contra pessoas com deficiência.


De acordo com estatísticas nacionais, uma em cada três mulheres corre o risco de ser vítima de violência sexual durante sua vida, e a estimativa revela que uma em cada cinco crianças, meninos ou meninas, enfrenta o mesmo risco. Estupro, ...
Clique no link abaixo para ler o artigo completo:
http://www.bengalalegal.com/violencia-pcd

Fonte: Site Bengala Legal
Bengala Legal

terça-feira, 7 de junho de 2011

As várias faces da Aids em 30 anos de Epidemia - GTP+ - 06/06/2011

Em 30 anos de epidemia, a doença que deixou de ser conhecida como o Mal do Século, não tem cara, nem endereço, afeta mulheres, adolescentes e pobres, e segue seu rumo ao interior do país, nas pequenas cidades visibilizando ainda mais os problemas de saúde pública. Hoje atinge cerca de 630 mil brasileiros soropositivos ao vírus HIV.

Esta geração que hoje tem 30 anos ou menos, ainda não perdeu os vícios e o preconceito que ainda cerca as pessoas vivendo com HIV e AIDS. A necessidade de combate ao estigma, ignorância, rejeição e à discriminação é urgente, pois já faz parte de brigas judiciais, e até de criminalização dessa população. “Isso alimenta o número de pessoas que vivem com o vírus e que ignoram sua condição, não aderindo ao tratamento dos medicamentos. O que resulta na mortalidade de mais de 12 mil por ano.”, disse o coordenador geral da ONG GTP+, Wladimir Reis.

Em menos de 15 anos, ela já havia mudado de face. No início da epidemia, na década de 80, se calculava uma mulher com Aids para cada 40 homens infectados. Hoje, essa proporção já está em um por um. Há também um grande número de adolescentes, o que preocupa de como esses jovens estão enfrentando questões que fazem parte da idade, como a sexualidade e sua conduta na escola.

Leia matéria na integra

http://enlacandosexualidades.wordpress.com/enlaces-tematicos/


No evento teremos o Enlace 11

Enlace 11: Pessoas com deficiência, direitos e invisibilidades

Anahi Guedes de Mello (NED-UFSC; NIGS-UFSC); Eulina Neta (CAEEP-BA); Mariene Maciel (AFAGA); Simone Reis (CAEEP-BA); Paula Sander

O discurso corrente na sociedade, em relação à sexualidade das pessoas com deficiência, oscila entre dois polos eivados de preconceitos: assexualidade versus hipersexualização, em particular em referência a jovens e adultos com deficiência intelectual e transtornos globais do desenvolvimento, que ou são descritos como anjos, ou como maníacos sexuais. Não há um volume expressivo de estudos acadêmicos que visem delimitar as origens e as consequências de tais visões. Reconhecendo a necessidade de construir uma visão focada nos aspectos concretos de suas vidas, este Enlace tem por objetivo detalhar os aspectos inerentes a tais concepções e assim, buscar uma dimensão humana às pessoas com deficiência.
email: enlacando11@gmail.com

http://enlacandosexualidades.wordpress.com/enlaces-tematicos/

quarta-feira, 11 de maio de 2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

Lançamento do livro :INCLUSÃO E SEXUALIDADE: NA VOZ DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA” - Ana Claudia Bortolozzi Maia

Capa do livro: Inclusão e Sexualidade - Na Voz de Pessoas com Deficiência Física, Ana Cláudia Bortolozzi Maia

O tema do livro “INCLUSÃO E SEXUALIDADE: NA VOZ DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA” é atual e relevante na medida em que vai ao encontro das discussões sobre os direitos sexuais e reprodutivos das pessoas com deficiências. O livro abrange discussões teóricas sobre a sexualidade e a educação sexual e a sexualidade de pessoas com deficiência física, priorizando questões como: o corpo estigmatizado, a relação da pessoa com deficiência e seus familiares e amigos e as possíveis dificuldades sexuais, orgânicas e psicossociais daqueles que sofrem uma lesão medular. Além disso, a partir de relatos emocionantes das próprias pessoas com deficiência física, é possível conhecer mais sobre os preconceitos sociais que impedem, muitas vezes, que o direito dessas pessoas à sexualidade seja garantido plenamente. O livro pode ser útil tanto a psicólogos, educadores, profissionais da área da saúde, pessoas com deficiências e seus familiares, quanto para aqueles que se interessam pela construção de uma sociedade realmente inclusiva.








Inclusão e Sexualidade - Na Voz de Pessoas com Deficiência Física
Ana Cláudia Bortolozzi Maia, 186 pgs. 
Publicado em: 11/4/2011 
Editora: Juruá Editora
ISBN: 978853623332-1
Preço: R$ 57,90
www.jurua.com.br



sexta-feira, 15 de abril de 2011

I SIES – II Simpósio Internacional de Educação Sexual: Gênero, Direitos e Diversidade Sexual: Trajetórias Escolares


II SIES – II Simpósio Internacional de Educação Sexual: Gênero, Direitos e Diversidade Sexual: Trajetórias Escolares - 
28, 29 e 30 de abril - Paraná

Neste simpósio teremos a mesa-redonda : Sexualidade(s)e Deficiências (s) : abordagens pedagógicas - Dra Ana Claudia Bortolozzi Maia (UNESP/Bauru), Dr Ari Maia (UNESP/Bauru) e Fernanda Guilardi Sodelli (NETPSI/sp)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Em artigo, Adriana Lage comenta sobre relacionamentos e sexualidade na vida das pessoas com deficiência


Por Adriana Lage

Tive um chefe aqui no banco que sempre me dizia que Deus nunca nos dá uma cruz maior do que aquela que podemos carregar. Algumas características do ser humano que mais admiro são a capacidade de adaptação e a resiliência. Acho que, quando nascemos ou adquirimos alguma deficiência, não há como escapar dessas características. Sem elas, o fardo da vida fica muito mais pesado. No nosso dia a dia, não são poucas as situações de desrespeito aos nossos direitos, preconceitos e injustiças. Muitas vezes, ficamos de mãos atadas. Queremos mudar os fatos, mas nem sempre isso depende só de nós.
Ao longo da vida, desenvolvi uma boa resistência para lidar com frustrações e perdas. Mas, quando isso acontece na esfera dos relacionamentos amorosos, ainda perco o chão. Estou parecendo protagonista daquelas músicas sertanejas, bem dor de cotovelo, altamente lacrimejantes e chorosas. De domingo pra cá, já deu pra encher o Rio Arrudas aqui de BH. E, por que não, o Pinheiros e Tietê, já que a causa delas fica em Sampa! Não acho que a função do relacionamento seja causar tristeza e dor. É claro que, eventualmente, existirão desencontros e pequenas brigas. Algumas contornáveis. Outras, não! É como me disse meu amor Alê: os pregos podem ser retirados, mas suas marcas sempre ficarão. Para mim, o grande barato de namorar é sentir prazer, não só o físico/sexual, dar boas risadas juntos, se sentir flutuando nas nuvens, sentir o coração disparado quando recebo uma ligação da pessoa que amo, dividir os momentos de alegria e tristeza, ter cumplicidade, cuidado e carinho um com o outro... Já me disseram que ando procurando um marido ao invés de namorado. Também me falaram que busco um príncipe de contos de fadas. Não acho que seja isso. Não tenho culpa se sou uma pessoa romântica! Sei que príncipes não existem, mesmo porque, várias piadinhas ressaltam que o melhor mesmo é o Lobo Mau (te ouve melhor, te cheira melhor...)!!
Acho que, hoje em dia, as pessoas andam tão atarefadas e mais individualistas que se esquecem de cultivar o amor e dar valor às pequenas coisas da vida. Nossa rotina anda tão estressante, que, muitas vezes, ficamos tão absorvidos com nossos afazeres e com o bombardeio de informações, que vamos deixando pra depois aquilo que realmente nos interessa. Quando nos damos conta, nossas gavetas já estão cheias de sonhos esquecidos e amores perdidos. O bom é que sempre podemos recomeçar e tentar mudar o curso da vida. Fácil não é, mas o risco vale à pena. Isso vale pra qualquer pessoa. O fato de possuir alguma deficiência, pouco interfere. Todos os mortais sofrem com essas coisas. E que graça teria a vida sem os desafios e surpresas do amor?!
Ainda não tive muita sorte no amor. Dessa vez, pensei que as coisas seriam melhores. Mas não sei... Tomara que dê tudo certo. Embora já tenha 33 anos, nunca fui namoradeira. Provavelmente, muito mais por falta de oportunidade do que de vontade. O Alexandre foi o terceiro homem a disparar meu coração. Ele é uma gracinha. Tem todas as qualidades que sempre busquei em um namorado. Pena que ele não entenda muito meu lado romântico de ser. Os outros dois por quem me apaixonei, só foram me dar o devido valor depois que me perderam. Esse é um fator que acho terrível no amor. Por que, normalmente, as pessoas só dão valor ao outro depois que perdem? Embora os valores tenham se transformado por completo nos últimos anos, como boa mineirinha que sou, sou mais certinha. Não gosto de estar cada dia com uma pessoa diferente, nem sair ficando por aí...
Tenho vários amigos deficientes que considero muito loucos. Um amigo cadeirante vive reclamando que não consegue arrumar namorada. As mulheres sempre se encantam por ele, mas apenas como amigo. Com isso, acaba contratando garotas de programa e vive se arriscando em locais desertos. Freqüentemente, conversamos. Ele sempre me dá dicas sobre cadeiras de rodas motorizadas, cuidadores, gandaia e informática. Pena que não dê pra conversar muito. Basta dar um pouquinho de atenção que já coloca as asinhas de fora e me chama pra brincar no MSN. A teoria dele é que, no MSN, podemos brincar e ter prazer sem nos machucarmos e magoarmos. Não gosto disso. Além de me dar uma vergonha danada, nunca faria esse tipo de coisa sem ter um vínculo maior com a pessoa.
Já, uma amiga cadeirante, vive reclamando que anda na seca. Fala que nem bêbado olha pra ela. Com isso, na falta de algo melhor, acaba se sujeitando em ser a outra. Vive sendo amante dos outros. Também vive procurando namorados na internet. Quando encontra, arruma um jeito e logo vai conhecê-los pessoalmente. Só que, infelizmente, são relacionamentos de curtíssima duração.
Conheci uma nadadora amputada que vive se relacionando com devottes. A mulher tentou me convencer de todo jeito que os devottes são a melhor alternativa para pessoas com deficiência. Falou que, no meu caso, já que sou bonita (palavras dela!), que não teria dificuldade nenhuma. Mas acho muito estranha essa história de devotte. Um dia desses estava conversando com a Vera que tem um blog sobre deficiências. Ela escreveu um artigo sobre devottes que não concordei 100%. Não conseguimos chegar num acordo. Pra mim, o tipo de preferência é diferente. Por exemplo, nunca vi alguém, que seja apaixonado por loiras, chegar pra uma mulher e perguntar qual sua marca da tintura, o número da coloração ou de qual região da Europa vieram seus ancestrais, etc. Eu não acho nada romântico alguém me perguntar se minhas pernas são finas, se uso sonda, fralda, etc. A embalagem é mero detalhe, mesmo porque, com o passar do tempo, todo mundo envelhece e o corpo se modifica.
Enfim, quem não tem talento pra escrever um modão dor de cotovelo, desabafa através do texto. Quando a sociedade passar a conhecer melhor as pessoas com deficiência, respeitando nossos direitos e anseios, com certeza teremos menos preconceito e poderemos exercer nossa sexualidade em toda sua plenitude. O bom da vida é que tudo passa. Estamos em constante aprendizado.
Postado por Leandra Migotto Certeza - escritora, jornalista e consultora no Caleidoscópio em 3/31/2011 04:30:00 PM

quinta-feira, 31 de março de 2011

Faz um ano que lançamos o blog "Ações e reflexões sobre aids e deficiência: diferentes vozes"



Amigos : Faz um ano que lançamos o blog "Ações e reflexões sobre aids e deficiência: diferentes vozes": 
Ele traz textos, eventos, dicas de livros, vídeos e filmes sobre deficiência, sexualidade, HIV/aids, tem a coluna "Como é que é?", do Beto Volpe e textos genéricos sobre deficiência.
Nesta data de comemoração agradecemos a todos que nos ajudaram a divulgar informações tão importantes. 
Já são 9.000 visitas. Nossa casa está de portas abertas para suas contribuições. Grande abraço , 
Marta Gil, Mina Regen e Fernanda G. Sodelli

Reatech 2011 - Na programação será realizado o II Seminário : A sexualidade na vida da pessoa com deficiência - 15/16 de abril - SP

Auditório 7
HORÁRIOPRÉ-TEMÁRIO – 15 de abril de 2011 – sexta-feira
14h00 às 15h00
CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA DA ONU
Palestrante: DR. EUDES QUINTINO DE OLIVEIRA ARAÚJO                 Promotor de Justiça aposentado, Reitor do Centro Universitário do                  Noroeste Paulista – UNORP -  de São José do Rio Preto, Coordenador                  do Núcleo de Inclusão Social – UNORP - SP
Moderador: BETO VOLPE - ONG Hipupiara - SP
15h00 às 16h00
Palestra: A SEXUALIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Palestrante: DR. FABIANO PUHLMANN 
                 Psicólogo, Psicoterapeuta, Especialista em Sexualidade Humana - SP
Moderadora: MÁRCIA GORI
                     
Bacharel em Direito, Sócia da Assessoria de Direitos Humanos São                  Thomas de Aquino e Colunista da Revista REAÇÃO, Membro do CAD –                  Clube Amigos dos Deficientes - SP
16h00 às 17h00
Palestra: MATERNIDADE, PATERNIDADE E A REPRODUÇÃO ASSISTIDA
Palestrantes : JOÃO CARLOS PECCI
                        
Escritor, Pintor, Lesado Medular e Pai - SP
                   TATIANA ROLIM – Psicóloga e Mãe
Moderador: MAURICIO PACHECO – Sociólogo - SP
17h00 às 18h00
Palestra: O DIFERENTE PODE SER SENSUAL E BELO?
Palestrantes:  KICA DE CASTRO
                        
Fotógrafa e Proprietária de Agência de Modelos Especializada em                    Pessoas com Deficiência
                   PRISCILLA MENUCCI
                        
Atriz e Modelo
Moderadora: MÁRCIA GORI
                      
Bacharel em Direito, Sócia da Assessoria de Direitos Humanos São                  Thomas de Aquino e Colunista da Revista REAÇÃO, Membro do CAD –                  Clube Amigos dos Deficientes - SP
18h00 às 19h00
Palestra: A SEXUALIDADE NA PARALISIA CEREBRAL
Palestrante:
  • ANA LÚCIA QUEIROZ – Grupo Quero-Quero
  • SUELY H. SATOW
  • SACHA BAND
Moderador: DR. FABIANO PUHLMANN – Psicólogo, Psicoterapeuta, Especialista em Sexualidade Humana - SP
HORÁRIO
PRÉ-TEMÁRIO – 16 de abril de 2011 – Sábado
13h00 às 14h00
Palestra: SÍNDROME PÓS-PÓLIO: QUAIS OS REFLEXOS NA SEXUALIDADE DA                 PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Palestrante: DR. CARLOS SOUTO DOS SANTOS FILHO
                     
Médico Fisiatra do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do                  Hospital das Clinicas e Faculdade de Medicina de São Paulo
Moderadora: MÁRCIA GORI
                     
Bacharel em Direito, Sócia da Assessoria de Direitos Humanos São                 Thomas de Aquino e Colunista da Revista REAÇÃO, Membro do CAD –                 Clube Amigos dos Deficientes - SP
14h00 às 15h00
Palestra: DEVOTEES: O QUE SÃO, COMO AGEM E PENSAM , MITOS E
                REALIDADE

Palestrante: DR. MAURICIO PACHECO – Sociólogo - SP
Moderador: DR. MAURICIO PACHECO – Sociólogo – SP
15h00 às 16h00
Palestra: INTERSECÇÕES ENTRE HOMOSEXUALIDADE E DEFICIÊNCIA
Palestrantes: CARLOS EDUARDO OLIVEIRA DO CARMO – Ator e Bailarino
                       ANAHÍ GUEDES DE MELLO – Cientista Social
Moderador: BETO VOLPE - ONG Hipupiara - SP
16h00 às 17h00
Palestra: DST/AIDS E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Palestrantes: BETO VOLPE – ONG Hipupiara - SP
                       TERESA CRISTINA LARA DE MORAES DA CUNHA
                       
Psicóloga, Secretaria Municipal de Saúde – São Paulo - SP
Moderadora: MÁRCIA GORI
                      
Bacharel em Direito, Sócia da Assessoria de Direitos Humanos São                  Thomas de Aquino e Colunista da Revista REAÇÃO, Membro do CAD –                  Clube Amigos dos Deficientes - SP
17h00 às 18h00
Palestra: DIREITOS SEXUAIS E REPODUTIVOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Palestrante: MÁRCIA GORI
                     
Bacharel em Direito, Sócia da Assessoria de Direitos Humanos São                  Thomas de Aquino e Colunista da Revista REAÇÃO, Membro do CAD –                  Clube Amigos dos Deficientes - SP.
Moderador: BETO VOLPE – ONG Hipupiara - SP

INFORMAÇÕES
Os inscritos deverão comparecer no auditório do seminário, com 15 minutos de antecedência.
INCLUSO
Palestras
DATA E LOCAL
15 e 16 de abril de 2011
Centro de Exposições Imigrantes - Rod. dos Imigrantes KM 1,5 - São Paulo – SP

terça-feira, 29 de março de 2011

Desarrollo Inclusivo: la experiencia de VIH-Sida y Discapacidad en Centroamérica

Desarrollo Inclusivo: la experiencia de VIH-Sida
y Discapacidad en Centroamérica
Por Rosangela Berman Bieler, Sergio Meresman, José Guillermo Galván Olrich y Elizabeth Rodríguez
março - 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

Versão eletrônica do livro I Seminário Nacional de Saúde: Direitos Sexuais e Reprodutivos e Pessoas com Deficiência


O Ministério da Saúde, por meio da Área Técnica Saúde da Pessoa com Deficiência, que integra o Departamento de Ações Programáticas Estratégicas da Secretaria de Atenção à Saúde, em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), divulga a versão eletrônica do livro I Seminário Nacional de Saúde: Direitos Sexuais e Reprodutivos e Pessoas com Deficiência, com a reprodução das palestras, depoimentos e debates realizados durante o evento que aconteceu em Brasília e contou com a presença de  gestores, lideranças da sociedade civil, pesquisadores, profissionais de saúde e outros setores ligados às políticas públicas.
Esta publicação é parte de um conjunto de ações que respondem aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil no âmbito do reconhecimento, promoção e efetivação dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Responde também às reivindicações da sociedade, dos familiares e das pessoas com deficiência que desejam exercer plenamente seus direitos, sua sexualidade, seus relacionamentos afetivos, a maternidade e a paternidade.
Ações públicas em saúde integral e em saúde sexual e reprodutiva resultam do respeito à premissa de que as pessoas com deficiência são, antes e acima de tudo, sujeitos de direitos, com direito a uma vida sexual segura e prazerosa, livre de coerção ou discriminação.
ÁREA TÉCNICA SAÚDE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA/DAPES/SAS/MS - disponível para download em:  www.saude.gov.br/pessoacomdeficiencia  /  www.unfpa.org.br