De acordo com o Censo do IBGE de 2000, 14,5% da população brasileira têm algum tipo de deficiência, ou seja, cerca de 24 milhões de pessoas. Mesmo assim, segundo Marta Gil, a visibilidade desses cidadãos na sociedade é baixa. “A nossa cidade nem sempre permite a acessibilidade em lugares públicos, o que deixa os indivíduos aprisionados em alguns casos.” A falta de acessibilidade traz outro problema: a falta de acesso à informação. A psicóloga do Amankay Fernanda Sodelli contou histórias de pessoas com deficiência. Em alguns casos, ficam isoladas e sob proteção da família, o que pode de certa forma prejudicá-las. “Muitas mães podem dizer, meu filho ou minha filha não faz sexo. Portanto, não necessita saber sobre isso. Mas, no momento que esse descobre a possibilidade e consegue uma paquera correspondida, não exige nada da outra pessoa, muito menos o preservativo. A relação acaba sendo uma submissão”, explicou.
“As escolas também algumas vezes encaram o tema com certo preconceito e dizem que quem deve ensinar sexualidade são os pais. Mas, o fato é que invariavelmente, em algum momento, todo mundo descobre o sexo”, acrescentou o representante da Secretaria de Estado de Direitos da Pessoa com Deficiência Daniel Monteiro que também é deficiente visual. “Neste momento que é importante incentivar a descoberta, mas também abordar o tema prevenção.”
A recente onda de escândalos de pedofilia envolvendo a Igreja Católica também serviu como gancho para o seminário. Segundo Marta Gil, quando uma criança com deficiência se isola demais, sem motivo aparente, o caso necessita de uma investigação mais profunda. “Se estes casos atuais na mídia geralmente são abafados, imaginem quando envolve esta parte da população”, disse Marta Gil.
Falta de Informação
A coordenadora do Instituto Amankay, Marta Gil, também criticou a falta de informação envolvendo HIV/aids e deficiência. “Quantas pessoas com essas características têm o vírus?”
O sociólogo Cláudio Monteiro do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo explicou que a aids também pode deixar sequelas, tornar uma pessoa deficiente. “Isso dificulta um pouco para apurar quantas têm HIV.”
“Mas não é impossível, necessitaria uma pesquisa mais aprofundada”, rebateu Marta Gil.
O ativista do Instituto Vida Nova Américo Nunes também lembrou que em 2009 o Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais lançou edital de pesquisa na área, com investimento de R$ 500 mil, e mesmo assim não recebeu nenhuma proposta. “Faltou mais divulgação por parte do Ministério”, disse Marta Gil.
“Falta também uma posição mais política das ONGs nessa área também”, afirmou Américo Nunes em entrevista.
O evento contou com a presença de estudantes da Universidade Cruzeiro do Sul, além de gestores e ONGs.
“A ideia foi trazer reflexões sobre o tema para fora de bairros centrais de São Paulo”, conta Marta Gil. Segundo ela, a atividade deve ser repetida no próximo dia 27 em Santo Amaro.
Rodrigo Vasconcellos - http://www.agenciaaids.com.br/site/
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