Após nove merecidas horas de sono tenho condições de compartilhar minhas impressões sobre a manifestação ocorrida em Sampa e a conseqüente reunião entre ativistas e gestores na sede da Secretaria Estadual de Saúde.
Sinceramente, a mais impactante manifestação que já tive o (des) prazer de participar no movimento de AIDS. Muita gente e, apesar da falta de um equipamento de som adequado, muito barulho. Não havia transeunte que não olhasse com reflexão dentro do complexo das Clinicas para aquelas pessoas que com paixão e desespero gritavam pela Vida. Foi muito fortalecedor ver (quase) todos e todas por lá, (quase) todo mundo apitando, gritando com garra, amarrando-se uns aos outros em correntes enormes, (quase) todo mundo morrendo no gramado em frente à Secretaria de Saúde. Muito, muito legal ver que não choveu e que o arco íris lá estava presente não no céu, mas em forma de bandeiras e de ativistas solidários pela causa. Lá em cima, pelas janelas podiam ser vistos vultos que se escondiam atrás das persianas. E a auspiciosa e sempre bem vinda presença maciça da imprensa, demonstrando um interesse que eu não via há tempos. Novamente, um fato negativo pode ter um potencial positivo muito superior: todos os profissionais de saúde e da mídia, pacientes e familiares, motoristas e pedestres tiveram uma terrível verdade escancarada à sua frente: A EPIDEMIA DE AIDS NÃO ESTÁ SOB CONTROLE !!! NÃO É NADA FÁCIL VIVER COM HIV, APESAR DOS AVANÇOS !!!
Tamanha força na manifestação e visibilidade na mídia provocou reunião entre membros do Fórum ONG/AIDS SP, RNP+SP, Cidadãs PositHIVas, PE DST/AIDS-SP e a chefe de gabinete da secretaria, Dra. Iracema, pediatra desde antanho e sua equipe. Nenhum representante do Congresso Nacional Africano esteve presente. O PE procurou descaracterizar a parcela estadual nessa responsabilidade e atribuiu ao MS todo o ônus pelo desabastecimento e disse que não havia problemas de logística na FURP (fundação estadual responsável pela logística de medicamentos no estado de SP), sendo contradito pela própria Dra. Iracema quase ao final da reunião quando a mesma disse que “tínhamos como responsável pelo almoxarifado uma pessoa com muita experiência em medicamentos e pouca em logística e agora acho que resolvemos colocando uma pessoa com experiência em logística e não em medicamentos” SIC , SIC, SIC !!!!!!!!!!!! !!!!!!!! Reflexão do movimento na mesma hora: “Não dá pra ser os dois ao mesmo tempo?” Igualmente a Chefe de Gabinete dos Lábios de Mel assumiu a responsabilidade pela FALTA de medicamentos obtidos por via judicial. Detalhe: quem entra na Justiça normalmente não tem muitos cartuchos para queimar, então esses casos são passíveis de MORTE IMINENTE.
Foi consenso, também entre os gestores, que a situação é extremamente grave e por esse motivo a CNAIDS teria aprovado carta ao MS recomendando ações para aperfeiçoar a administração da área farmacêutica. O PE defendeu a fabricação nacional como solução para os problemas. Novamente fui na contramão da maioria, APESAR DE CONCEITUALMENTE SER TOTALMENTE A FAVOR. Alguém que me lê agora realmente acredita que temos seriedade na gestão em Saúde? Pois então... Sustentabilidade técnica e financeira para tal temos, mas nos falta a política. Não foi isso que tanto nos ensinaram nos seminários de sustentabilidade? ?? Continuo com meu lema ‘Quebra de Patentes Já Já’, quando tivermos maturidade na gestão. Enfim, foi informado ao final da reunião que havia chegado o Acabavir, ops, Abacavir em Brasília e que no prazo máximo de uma semana ele estaria disponibilizado aos estados (diferente mente do informe passado por Simoni de que sexta feira já estaria por aqui). E que está declarada situação de guerra para que cheguem o mais rapidamente possível aos municípios e para tal seria marcada reunião de emergência com as DRSs. Ao final, Dra. Iracema disse que “todos têm culpa”, afirmação que foi rechaçada pois “cachorro que tem dois donos morre de fome e onde todos têm culpa, ninguém é responsabilizado” , sendo sugerido pelo movimento social que tanto a Secretaria quanto o Conselho Estadual de Saúde apurem responsabilidades e cuidem para que isso não mais aconteça.
Foi reflexão e consenso entre o movimento social que temos nossa parcela, pois sabíamos desde o ano passado da ameaça e nada havíamos feito para que isso fosse evitado ou minimizado. Outra coisa: entrando para a reunião fui abordado por um co-infectado HIV/HCV que pediu que eu falasse sobre a situação do pessoal de hepatites que também estaria sendo afetado. Apesar de ter tocado no assunto ao final da reunião, conversei com o senhor que havia me abordado e disse que o movimento de hepatites deveria estar ali também. Pergunto: foi feita essa articulação? Se não nos víamos no mesmo barco, agora estamos no mesmo departamento. É prudente coordenar ações para um não tocar o barco a bombordo enquanto o outro toca a estibordo. Em conversas após a reunião alguns ativistas foram favoráveis a uma IMENSA manifestação durante o Congresso de Prevenção, afinal, estaremos no lugar certo, na hora exata e com toda a razão ao nosso lado.
Beto VolpeHipupiara
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